PATERNIDADE

Hoje é dia dos pais. Pensei muito antes de começar a escrever. Fiquei com receio de que algumas pessoas pudessem ficar magoadas com o conteúdo. Perguntei pra quem certamente me auxiliaria na decisão e a resposta não poderia ter sido mais perfeita: “Seu coração mandou? Arrisca.”.

A verdade é que sim, meu coração mandou. Eu acordei sabendo que eu deveria fazer isso. Não só pra mim mas pra mais alguém. Não sei quem, mas desde que acordei senti que alguém precisaria ler essas minhas palavras. Então, como não poderia ser diferente, lá vem textão.

Quero deixar claro que é a minha história, a minha versão dos fatos, os meus sentimentos. Em nenhum momento tive a pretensão de que isso seria uma verdade absoluta porque, de fato, não é. Como eu disse, é a minha narrativa.

Eu passei alguns anos da minha vida tendo uma certa dificuldade com relação a paternidade, com relação a palavra pai. Passei parte do meu desenvolvimento rumo à fase adulta tentando entender alguns porquês, tentando entender o abandono, tentando buscar em outras representações masculinas a figura de pai. Irmão mais velho, tio, amigos, amores. Nunca encontrei. É interessante como algumas coisas só vem com a maturidade. Na verdade, a maturidade vem e nada tem a ver com a idade. Tem adultos que são eternas crianças e tem crianças que já se posicionam como adultos.

Meu problema com relação a paternidade era tão sério que eu sequer conseguia assinar meu sobrenome por parte de pai. De Almeida. Não falava. Não escrevia. Não usava nas redes sociais. Mas o A sempre esteve na minha assinatura. É como se, de alguma maneira, eu soubesse que ele era necessário, que era parte de mim e que em algum momento eu saberia reconhecer isso.

Eu não me lembro de muita coisa da minha infância. Não naturalmente. Muitas coisas não sei se realmente existiram ou se foram criação da minha mente, ou uma junção de fatos reais com imaginários, uma mescla de lembranças com expectativas. Não sei mesmo. Mas me recordo do sentir. Eu acho que sempre fui muito intensa, na verdade. Posso não lembrar de fatos, mas lembro de sentimentos, de sensações. E eu tenho muitas delas comigo. 

Em alguns meses farei 38. Há alguns anos me dei conta de que não sei ao certo a minha história. Por que eu nasci, se fui desejada, se fui um aborto que não deu certo, se fui fruto de um caso ou acaso, se fui apenas um susto, se fui resultado inesperado de um amor. Não sei quem estava ao meu lado durante meus primeiros meses e anos, não sei, não lembro ou talvez não queira lembrar. Quem explica a mente humana?

Minha mãe faleceu em outubro do ano passado. Deixou a versão dela e levou com ela muitos segredos. Tenho consciência e maturidade pra aceitar e entender isso. Eu nunca, nunca, nunca ouvi ela falar mal dele. Muito pelo contrário, ela dizia que ele era uma excelente pessoa, de caráter, muito trabalhador e super carinhoso. Que nunca maltratou meu irmão mais velho. Que adorava minha vó. Dizia que ele era ‘bonzinho demais pra ela’ (no sentido de ser tão bom com ela a ponto de não ser pra ela). Minha vó falava bem dele. Meu tio falava bem dele. Eu nunca ouvi nada que denegrisse a imagem dele (aliás, tem uma história hilária demais sobre ele mas não posso contar aqui!). Eu nunca entendi muito bem porque uma mulher seria tão burra a ponto de não querer um homem desse do lado, mas enfim.

Eu sei que, em algum momento, eu tive minha parcela de responsabilidade pelo distanciamento com meu pai. Não me isento disso, afinal, eu era apenas uma garotinha tentando viver em uma casa sem pai, mas com muito amor e com muitos problemas também. Faz parte. Não é exclusividade minha.

Sei também que tenho total responsabilidade pela nossa aproximação. Deus veio com a cura e eu com a atitude. A verdade é que nós temos o poder de decisão, de escolher o que vai nos machucar pra sempre ou o que vai nos libertar pra sempre. Deus te dá o poder de escolha e você decide qual caminho seguir. Diante da sua escolha, Ele faz o que precisa ser feito e, como diz a bíblia, ‘todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’. Comigo não foi diferente. Eu quis a transformação, rasguei meu coração, me posicionei, Ele veio com a cura, eu comecei a agir.

Em 2010 eu e Thiago (meu irmão do meio por parte paterna) nos aproximamos muito (valeu finado Orkut! Valeu MSN!). Eu costumo dizer que ele é minha versão masculina de tantas coisas que temos em comum: modo de pensar, de ver a vida, sonhos, etc. Lucas é o caçula e eu sou completamente apaixonada por ele, mas sobre eles falarei em outro momento. Mas voltando…

Em 2011 fiz minha primeira viagem de avião. Fui pra Bahia pela primeira vez. Sozinha. Lembro de perder o sono noites antes da viagem. Na noite anterior então, fiquei em estado de euforia. Era um mix absurdo de sentimentos, incluindo medo, muito medo do desconhecido. Eu me sentia um bicho indo pro matadouro, sem saber como seria recebida, o que falariam, como agiriam. Fiquei com medo de ser tratada mal. Fiquei com medo de não saberem da minha existência. Fiquei com medo de não saber reagir quando alguém falasse “Mas você? Filha paulista do Nilton? Nem sabia que ele tinha filha!”. Fiquei com medo dos olhares. Fiquei com medo de ser rejeitada. Fiquei com medo de não sentir amor. Fiquei com medo de me arrepender. Fiquei com medo de não me reconhecer em meio àquelas pessoas. Eu poderia listar mais um monte aqui. Era medo atrás de medo. 

Ainda vou falar detalhadamente sobre essa minha primeira viagem porque é um capítulo que vale super a pena. Acredite.

Mas o que eu quero dizer hoje, nesse dia dos pais, é que por muitos anos eu dizia que esse era o dia da minha mãe. Da pãe. Da super mãe. Da heroína. Sei lá mais quantos nomes a gente dá. Mas não. Hoje é comemorado o dia dos pais. PAI. Aquela pessoa que foi instituída pra cumprir esse papel. Mãe é mãe. Pai é pai. Filho é filho. Cada um com sua nomenclatura, cada um com seu mérito, cada um com sua função. Se exerce ou não, são outros quinhentos.

Nesse dia dos pais, reflita.

Se você tem um pai presente, reflita. Se você tem um pai ausente, reflita. Se você tem um pai que nunca fez jus a esse título, reflita. Se você tem um pai que já partiu, reflita. Se você tem um pai de consideração, reflita.

Reflita.

Em algum momento da minha vida eu decidi mudar a minha história com relação ao meu pai terreno. Lembro como se fosse hoje da minha oração: “Deus, eu vou fazer a minha parte. Se vai haver reciprocidade eu não sei, mas não quero morrer com essa dúvida, não quero morrer com a frustração de não ter tentado.”.

Foi a minha melhor escolha. Foi a minha melhor decisão. Foi a minha melhor atitude. Tive que encarar o passado, tive que encarar minhas feridas, tive que encarar meus medos, tive que encarar a realidade. E volto a repetir: foi a minha melhor decisão da minha vida.

O tempo não volta pra gente mudar as coisas. Não se recupera o tempo perdido, na minha visão de vida. Meus 15 anos não vão voltar pro meu pai estar presente na festa. Meu primeiro namorado não vai voltar pra ele conhecer, fazer cara feia e deixar claro o ciúmes. Minhas conquistas não vão voltar pra eu compartilhar com ele minha felicidade. Meus medos não vão voltar pra eu correr pro colo dele pra me sentir segura.

Mas temos a chance de mudar nosso futuro. Temos a chance de intervir pra que algo seja diferente. Nosso hoje está aí, passando rápido pra se tornar o ontem e ansioso pra ver como o amanhã vai ser! “Ah, Leila, mas se você soubesse tudo que ele já me fez, se você soubesse da minha história…!”. Eu realmente não sei. Não faço ideia. Mas o Deus que eu acredito sabe e pode te ajudar a enfrentar isso, assim como fez comigo. Mas Ele não vai te forçar a nada. Você precisa querer. Eu tive a chance de mudar minha história com relação a paternidade. Você também tem a chance de mudar a sua. Acredite. Vale a pena, mesmo que o resultado não seja o que você esperava. No meu caso, foi melhor, bem melhor!

E com vocês… meu véio! Meu pai. O bonitão. O gostosão. O charmosão. Nilton. De Almeida. 

Te amo, pai. Sou feliz e grata por ter você como pai. E trate se viver mais uns 115 anos, por favor. Tenho muita coisa pra viver com você ainda.

Com carinho,
Lê, uma jovem cristã à favor do Reino.

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A carta que não entreguei.

Eu poderia ter começado pelo óbvio, só que resolvi começar pelo fim. Que falta me faz sua voz! Seu olhar! Suas palavras digitadas e faladas! Que falta me faz tudo aquilo que era vontade, se tornou realidade e hoje não passa de lembranças que eu devo esquecer. Era tudo tão encantador, mesmo com tantos contras – altos – baixo – opostos, que até parecia mentira. E talvez fosse.

Vi em você segurança, mas enxerguei em seus olhos fuga. Vi em você certezas, mas enxerguei em seus olhos dúvidas. Vi em você convicções, mas enxerguei em seus olhos infinitas buscas.

Descobri em você o que eu queria pra mim, o que me preenchia, o que me dava vida, mas entendi que o que eu poderia te dar era pouco, ou era muito, ou não era nada pra você.

Talvez eu tivesse insistido. Mas para isso eu teria que continuar passando por cima das minhas convicções, daquilo que tenho como base pra minha vida, daquilo que creio e daquilo que sonho. Sim, porque pra ficar com você eu passei por cima de mim. Isso nada tem a ver com culpa, saiba. Isso foi uma escolha. Uma escolha minha.

Então eu quero que saiba que hoje, por mais que doa em mim, eu escolhi me respeitar e te respeitar. Dar o espaço que você quer, não dar nada que você não queira. Não forçar, não insistir, não procurar, não esperar.

Não são as pessoas que se afastam. Talvez seja você que afaste as pessoas, com consciência disso ou não.

Tão perto e ao mesmo tempo tão longe! Sinto sua falta, mas respeito suas escolhas.

Com amor,

Lê.